A arte de Marcio de Carvalho, conhecido artisticamente por Mar do Vale, tem ganhado as ruas do Rio de Janeiro e de  outros Estados, desde a pandemia. O artista perambula pela cidade com sua sacola, onde leva uma bandeja, uma garrafa de tinta, um rolinho e uma fita crepe. Os lugares mais improváveis saltam aos seus olhos e as palavras “pedem” para serem escritas, carregadas de poesia, em diálogo com as paisagens. Palavras que brotam, que nascem, que pousam, repousam e cativam os olhares e os pensamentos de quem as encontra no caminho. Palavras que ficam gastas, que são apagadas pelo tempo. Vestígios de palavras. Uma grande brincadeira de escrever e ler, bem afinada com o tema do Grupo 5, “Brincando de ler e escrever”.

Na última quarta-feira, a turma foi aos jardins do Museu da República para ver de perto as intervenções feitas pelo artista naquele espaço. Chegando lá, logo se encontraram com Marcio, ou Mar, que propôs uma caminhada à procura das palavras. “É um caça-palavras, só que vivenciado!”, disse uma das crianças enquanto corria pelo jardim. Quando encontravam, rapidamente liam e produziam diversos sentidos para elas. Marcio, impressionado com a velocidade de leitura das crianças, parava e contava sobre as histórias de cada uma delas. E a interação das crianças com as palavras foi uma produção poética contagiante. “Encontramos o ‘Encontrar’!”, disse entusiasmada uma das crianças. 

Ao final das andanças, o artista convidou a turma para retocar uma das palavras: “Encantamento”, que, por conta de obras no museu, teve uma letra “apagada”, coberta por asfalto. Ao lê-la, rapidamente as crianças identificaram: “Está faltando a letra E!”. Mar fez a pintura da letra junto com a turma, explicando passo-a-passo sobre o tamanho de cada letra – “O M é mais largo que o C, por exemplo.” -, a distância entre elas e mediram tudo com o auxílio de uma fita crepe. As crianças acompanharam atentamente cada etapa de construção da letra, apontando letras maiores e menores, sugerindo espaçamentos…

“Escrever é desenhar. A gente desenha as letras, não é?”, falou Marcio.

Escrever é desenho, é matemática, é leitura de mundos, contextos e criação de relações.

Antes da despedida, enquanto faziam um piquenique, Marcio presenteou a turma com 3 folhas de Espada de São Jorge, nas quais escreveu, com caneta posca, três palavras escolhidas pelas crianças. “Se botar na água, ela cria raízes e depois é só plantar.”, contou o artista. “E a folha vai crescer muito?”, perguntou uma das crianças. “Sim. Cresce bastante.”, respondeu Marcio. “E a palavra vai crescer junto?”. “Vai. Vai virar uma ‘Terra’ bem grande, uma ‘alegria’ gigante e um ‘amor’ enorme!”

Um encontro e tanto nessa gostosa tarde ensolarada do inverno carioca.

Obrigada pelas ricas trocas, Mar do Vale!

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